segunda-feira, 5 de novembro de 2012

SINA TROPEIRA

SINA TROPEIRA
(Luciano Salerno)

“Era boi...
toca, toca...
...Olha a estrada boi...”

A garganta firme...
os olhos fixos buscando
o destino a chegar,
a tropa seguindo o ponteiro
no compasso do cincerro
na sua sina de andar;

            Assim...
            passou a vida “Dom Olivério”
            cruzando vaus, coxilhas e canhadas
            reculutando gado alçado
no rumo das charqueadas.

No pouso, fogo grande,
adoçando as melodias
chiar de cambonas...
e os aboios solitários...
sustentando cada quarto de ronda.

E quando a aurora entreluzia a manhã
pela imensidão da pampa,
“Dom Olivério” com a tropa encordoada
e a alma “ajoujada” nos arreios
seguia para mais uma jornada.

“Venha boi...
toca, toca...
...olha a estrada boi.!”

Enfim... o destino final;
- O boi, o fio das facas lhe cobre!
- O homem, na busca dos cobres!
Pois este era o destino de ambos,
galgar por campos, serras e várzeas
deixando um pouco de si para o tempo
e a vida pelas estradas.

E nesta sina de ir e vir,
o tempo foi marcando seu semblante
na dinastia de tropear.

“Dom Olivério”...
viu surgir os fios do alambrado
e pouco a pouco foi escasseando o gado;
Pois o progresso...
trouxe a linha de ferro e o apito alto,
depois, o caminhão ponteiro pela fita do asfalto.

...Silêncio na estrada real...
...não mais o ....“Era boi...”
... perdeu-se no tempo o seu “Dom”
quando emalou o poncho...
...e se foi... ser mais um retirante,
...mais um cargueiro de sonhos
... com cincerros de prantos a tocar,
nas ânsias de quem não tem...
...mais estrada a cruzar.

O rancho virou tapera!
O caminho das tropas em estradas,
os pousos em cidades,
tudo mudado para outra realidade!

            E hoje "Olivério" é ponteiro
da comitiva de outro labutar,
um campo celeste...
...o fez compreender...
porquê do estradear.

Sim! A vida e a estrada,
os seus valores reais lhe ensinou...
...nas lembranças de um tempo tropeiro...
*...que foi o seu tempo...
*...e acabou!

 

Agora...
reponta estrelas nesta sina tropeira
que herdou dos ancestrais;
Fazendo ronda de lua em lua...
...e sumindo no horizonte...
...nos crepúsculos matinais!

*Do poema “Silêncios de um fim de tarde ”
de Guilherme Collares.